'Aqui estou eu
Sou uma folha de papel vazia
Pequenas coisas
Pequenos pontos
Vão me mostrando o caminho
(...)
Sei que me esperas
Não sei se vou lá chegar
Tenho coisas p'ra fazer
Tenho vidas para a acompanhar
(...)
Bem-vindos a minha casa
Ao meu lar mais profundo
De onde saio por vezes
Para conquistar o mundo
Às vezes aqui faz frio
Às vezes eu fico imóvel
Pairando no Vazio
No Perfeito Vazio'
[X&P]
Hoje vi uma peça dos jovens de Cascais, onde uma amiga minha participa.
Não é por ser minha amiga, até porque o seguinte não se aplica exclusivamente a ela, mas a peça é brilhante. Desde um cenário nada elaborado mas que encaixa perfeitamente, à brilhante adaptação de uma história escrita há vários anos mas com temas bastante actuais, passando por uma soberba banda sonora e acabando, como em todas as grandes peças, com jovens actores muito talentosos.
Escusado será dizer que gostei muito, por esta altura já devem ter percebido.
O curioso, que me deixou a pensar, foi o facto de ter sido exactamente naquele teatro que o António Feio deu uma das suas últimas grandes entrevistas.
Morre uma estrela e desenvolvem-se outras... Se o talento que inundou aquele palco hoje continuar a crescer, ainda há esperança para o teatro.
Desde que me lembro, nunca chorei com mortes de conhecidos, seja actores, cantores, escritores ou whatever (Claro está, que era uma criança quando o Kurt Cobain morreu).
Gostava do Raul Solnado, achava-o hilariante, e assim como o Saramago e a Rosa Lobato Faria, foram todos enormes perdas para a cultura portuguesa.
Mas com o António Feio foi diferente. Senti-me genuinamente triste, de lágrimas nos olhos confesso. Cresci com as suas peças, com o incontornável e inesquecível Toni, que tinha umas falas num inglês arranhado que na altura para mim fazia todo o sentido. Era um grande encenador mas principalmente um grande comediante. Perdeu a luta contra a doença mas os imprevistos e as batalhas que surgiram até ao desfecho, esses foram todos ganhos com um sorriso nos lábios e gargalhadas que contagiavam qualquer um.
Deixou-nos uma mensagem das mais simples e verdadeiras que existem: ‘Aproveitem a vida e ajudem-se uns aos outros. Apreciem cada momento. Agradeçam. E não deixem nada por dizer, nada por fazer.’ Por fazer…ainda tinha tanto para fazer, tanto que ainda podia e que eu queria receber. Que o seu talento inspire muitos mais Antónios, Portugal necessita, e que descanse em paz.
Se há alguém que o merece é ele.
assim assim, a dar para o bom